Imagem: RareJet Force Gemini pode não ser tão popular quanto outros clássicos da Rare do N64, como Banjo Kazooie ou GoldenEye 007, mas isso não impediu que o jogo desenvolvesse um certo culto de seguidores online entre aqueles que aprenderam a amar a aventura científica sobre um grupo de agentes intergalácticos.
Ao longo dos anos, encontramos centenas de artigos e vídeos que tentam juntar a história do jogo e desvendar seus segredos mais profundos, sendo o mistério mais intrigante que surgiu nesse tempo a existência de uma versão para Game Boy Color que nunca foi lançada, a qual estava em desenvolvimento na Bits Studios no início dos anos 2000.
Muito pouco se sabe sobre esse port, então recentemente decidimos identificar a equipe de desenvolvimento e ver se conseguíamos descobrir mais sobre como esse projeto misterioso surgiu e por que foi eventualmente cancelado. Para dar um pouco de contexto, a existência do port veio à tona em 2009, quando um colecionador nos Fóruns Assembler declarou que havia adquirido um cartucho. Esse colecionador compartilhou várias capturas de tela do jogo, mas acabou afirmando que decidiu não compartilhar o ROM, sugerindo que tentaria vendê-lo.
Imagem: Fóruns Assembler.
A partir daí, realmente não aconteceu nada de relevante até janeiro de 2016, quando um vídeo foi carregado no YouTube sob o nome de conta “Game Boy Color”, mostrando supostamente o ROM em ação. Isso foi seguido, um ano depois, por outro vídeo, além de várias postagens de alguém chamado DevEd8 VGM, que compilou a trilha sonora completa do compositor Jeroen Tel em uma lista de reprodução na plataforma de compartilhamento de vídeos.
Como Jet Force Gemini para Game Boy Color nunca foi lançado comercialmente, foi um pouco difícil saber por onde começar nossa investigação, então acabamos entrando em contato com praticamente qualquer pessoa que conseguimos encontrar que trabalhou na Bits Studios no início dos anos 2000 em jogos para o portátil da Nintendo e, por sorte, acabamos encontrando uma pista.
Dylan Beale, um produtor do projeto, respondeu e se ofereceu para nos ajudar a entrar em contato com o programador principal, Jas Austin, e o artista principal, Mark Jones, e, ainda mais animador, sugeriu que Austin poderia ainda ter um ROM do jogo em sua posse. Agradecemos pela ajuda e aguardamos um retorno enquanto recebíamos mais respostas de outros membros da equipe que contatamos, incluindo o artista Laurence McDonald, o artista de fundo Martin Wheeler, e o programador de cutscenes Steve Clark — todos eles tendo dificuldade em lembrar os detalhes exatos de por que Rare e Bits acabaram trabalhando juntos ou por que o projeto nunca foi lançado, mas se oferecendo para ajudar se pudessem.
Imagens: Dano2k0/Unseen64.
Eventualmente, recebemos uma resposta de Austin, que nos disse que os vídeos pareciam autênticos e nos deu mais informações sobre o projeto, mas, infelizmente, negou ter uma cópia. Ele sugeriu que deveríamos entrar em contato com a Rare/Microsoft, pois “são os atuais detentores da propriedade intelectual”, mas como a Rare não mencionou nada sobre a existência desse jogo durante a sua compilação de jogos, Rare Replay, vamos arriscar dizer que há poucas pessoas restantes na empresa que lembram da sua existência, e ainda menos chance de que alguma delas compartilhe um ROM.
Tentamos, no entanto, contatar alguns ex-funcionários da Rare, com Gary Richards, o ex-líder de portáteis da empresa, conseguindo fornecer uma explicação do por que o jogo foi terceirizado, sugerindo que foi “simplesmente uma questão de números”, já que a Rare estava ocupada “desenvolvendo Perfect Dark, Conker, Banjo, Donkey Kong Country e Mickey Adventure Racing” na época.
Tendo tudo isso em mente, provavelmente vale a pena revisitar alguns dos detalhes do projeto que Austin compartilhou conosco.
De acordo com o programador, o jogo estava praticamente completo quando foi cancelado e estava “em processo de testes finais”. No entanto, assim como todos os outros desenvolvedores com quem conversamos, ele não conseguiu lembrar exatamente por que foi abandonado, afirmando que ficou tão “surpreso quanto todo mundo” quando a decisão foi tomada. Uma teoria que vimos sendo levantada online é que o jogo pode ter sido cancelado devido ao desempenho comercial fraco de Perfect Dark (GBC) e Conker’s Pocket Tales, mas não encontramos nada concreto para sugerir isso, então é uma informação que deve ser vista com cautela.
Como Austin nos contou, a maioria do design para o título do Game Boy Color foi “muito impulsionada pela Bits”, ao invés de ser imposta pela Rare, com os desenvolvedores visitando o estúdio de Twycross para apresentar uma “visão geral em uma página” para comunicar o que tinha em mente para o projeto. Segundo ele, houve aparentemente algumas reuniões a mais, mas, no geral, houve muito pouca contribuição da Rare para o design ou a arte, com a Bits sendo praticamente deixada sozinha para trabalhar durante os 6 a 12 meses em que o jogo estava em desenvolvimento.
A narrativa do jogo era completamente diferente. A história começava com a sua queda em um planeta, com apenas Juno sendo jogável. Lembro que Vela estava desaparecida e Lupus estava machucado. À medida que você jogava, desbloqueava os três personagens.
Curiosamente, comparando a abertura do jogo do N64 com o vídeo do protótipo do Game Boy Color online, parecia que os dois jogos apresentavam aberturas ligeiramente diferentes, embora ambos parecessem começar no planeta florestal de Goldwood. Por conta disso, perguntamos a Austin se ele se lembrava de algo sobre a história do jogo e se ela seguiria a mesma trama que o título do N64.
Ele respondeu: “Era uma história completamente diferente. A narrativa começava com você caindo em um planeta, com apenas Juno jogável. Lembro que Vela estava desaparecida e Lupus estava machucado. Conforme você avançava, desbloqueava os três personagens. No nosso jogo, cada um possuía uma habilidade única que permitia que apenas eles avançassem em partes das fases. Lembro que Lupus tinha botas a jato que o permitiam pular e flutuar para atravessar grandes distâncias.”
Ele continuou: “Nós também tínhamos um nível central onde você voltava e que tinha portais que levavam a outros níveis auto-contidos. Tenho certeza de que eram os clássicos: nível desértico, nível de selva, nível de lava, etc.”
Infelizmente, durante nossa pesquisa, não conseguimos descobrir mais materiais do projeto ou encontrar uma razão definitiva para seu cancelamento. Mas prometemos continuar tentando e incentivamos qualquer um que tenha informações a nos contatar através do formulário em nosso site.
