Ao longo dos anos, a série Resident Evil gerou uma infinidade de filmes e até uma série na Netflix. A mais recente novidade é que a franquia está prestes a receber uma nova adaptação sob a direção de Zach Cregger (do filme Barbarian e Weapons), programada para estrear nos cinemas em 2026. Porém, pouco se sabe sobre os desafios que a Capcom enfrentou para convencer Hollywood de que a série merecia uma adaptação. Na verdade, a maioria dos estúdios vetou o projeto, o que levou a Capcom a tomar a decisão inusitada de se unir à empresa alemã Constantin Film para concretizar o primeiro filme, sendo rejeitada por todos os outros estúdios que procurou.
Recentemente, a Time Extension conversou com Marc Mostman, representante da Capcom na Entertainment Licensing Associates Ltd. (ELA), sobre o contrato de licenciamento da Capcom com a Toy Biz para a linha Video Game Superstars. Durante essa conversa, ele compartilhou as origens da produção do filme e as dificuldades enfrentadas para apresentá-lo aos executivos de Hollywood na época. Curiosamente, a ideia de criar um filme de Resident Evil não partiu do Japão, mas de um coordenador de licenciamento da Capcom chamado Don Friedman, cuja contribuição não aparece nos créditos do filme de 2002.
Como Mostman lembrou, ele e Friedman eram amigos e costumavam trabalhar juntos em vários projetos relacionados ao Street Fighter. Um dia, em 1996, Friedman entrou em contato com Mostman a respeito de um novo jogo de terror que a Capcom estava prestes a lançar, chamado Resident Evil, que, segundo ele, tinha potencial para ser uma ótima adaptação cinematográfica.
“Don Friedman me ligou e disse: ‘A Capcom está lançando um jogo incrível chamado Resident Evil. Eu vou te mostrar umas coisas que vão te impressionar. Vocês precisam fazer disso um filme.’ Então, meu chefe, Daniel Kletzky, que havia saído da Warner Brothers, comentou: ‘Eu sei onde vamos.’ Reunimos um vídeo da gameplay daquela cena inicial em que você entra pela porta e encontra um zumbi, além de cenas dos Dobermans pulando pelas janelas e fomos à Warner Brothers fazer a apresentação. Até aquele momento, eu nunca havia feito uma apresentação de filme e precisava convencer aqueles executivos sobre Resident Evil.”
Como Mostman se recorda, uma das táticas que ele e seu chefe desenvolveram para convencer os executivos da Warner estava em aproveitar o burburinho em torno do jogo. O título já havia chegado às prateleiras antes das reuniões iniciais com os estúdios de cinema, então decidiram sugerir aos decisores da Warner e de outras empresas que ligassem para a Toys”R”Us e fingissem ser clientes para perguntar qual jogo recomendariam para um adolescente. Isso, esperavam, mostraria que Resident Evil era uma marca reconhecida e um verdadeiro tesouro do mundo dos games.
“Meu chefe dizia para eles: ‘Ligue para a Toys”R”Us e diga que você tem um menino de 15 anos fazendo aniversário e quer comprar um jogo. O que você deve escolher?'”, disse Mostman. “E toda vez que alguém ligava, eles respondiam: ‘Ah, você precisa pegar Resident Evil.’ Infelizmente, a Warner Brothers acabou não aceitando, e a partir daí, fomos a todos os estúdios de Hollywood e todos recusaram.”
Diante das várias recusas, parecia que o plano da Capcom para transformar Resident Evil em um sucesso de bilheteira estava fadado ao fracasso. No entanto, Mostman acabou mostrando o jogo a um amigo, que trabalhava na Constantin Film, e essa conexão mudaria tudo. “Ele disse: ‘Você pode trazer isso aqui e apresentar para meu chefe?’ Eu mencionei que estávamos buscando estúdios maiores, mas ele insistiu: ‘Não, você precisa nos apresentar.’ Perguntei ao meu chefe sobre a Constantin, e ele respondeu: ‘Eu conheço esses caras. Eles são grandes. São uma empresa alemã.’ Então fomos até lá, fiz a apresentação, e a Constantin imediatamente disse: ‘Estamos dentro.’ Fechamos um acordo uma semana depois, e levou anos até o primeiro filme ser lançado.”
Em janeiro de 1997, a Constantin Film assinou o contrato para produzir um filme de Resident Evil, com Alan B. McElroy, roteirista do filme Spawn de 1997, integrado ao projeto, e George A. Romero como diretor. Entretanto, o roteiro passou por várias revisões, com Romero até produzindo seu próprio script em 1998, que acabou vazando online. Mas, como Mostman observa, nenhum desses roteiros conseguiu capturar a essência de Resident Evil, e o projeto se arrastou com diversas mudanças nos bastidores.
“Todo o roteiro que chegava eu lia e dava feedback”, contou Mostman. “Eles tinham um primeiro rascunho de um filme de Resident Evil do Romero, mas não era bom. Não estava certo. Acabei tentando ficar na ELA tempo suficiente porque queria participar do filme final, mas foi se arrastando tanto, com tantas reescritas, que acabei decidindo: ‘Ok, preciso seguir em frente.’ Então, fui para a Paramount trabalhar com licenciamento em 1999.”
Após inúmeras alterações na história e na equipe criativa, Paul W.S. Anderson lançou sua versão de Resident Evil alguns anos depois, que rendeu várias continuações e se tornou uma série de filmes bilionária — o que possivelmente deve deixar alguns executivos de Hollywood acordados à noite, independente da qualidade do que foi feito.
