A Nintendo é uma das empresas mais icônicas do mundo atualmente, e personagens como Mario e Donkey Kong são reconhecidos por milhões de pessoas ao redor do globo. No entanto, se a companhia tivesse perdido um processo judicial crucial em 1983, talvez nunca tivéssemos visto esses personagens novamente – e, pode-se argumentar, a Nintendo em si poderia não ter se tornado a gigante que é hoje.
O caso Universal City Studios, Inc. v. Nintendo Co., Ltd. foi desencadeado pelo lançamento do popular jogo de arcade Donkey Kong em 1981, que a Universal alegou infringir os direitos sobre King Kong. A Nintendo, por sua vez, citou um caso anterior, Universal City Studios, Inc. v. RKO General, Inc., como prova de que a própria Universal já havia defendido a ideia de que King Kong e sua narrativa estavam em domínio público.
Um dos envolvidos nesse processo foi Jerry Momoda, que recentemente compartilhou sua experiência na Nintendo com o Time Extension. Momoda estava na Nintendo of America há menos de um ano, mas logo se viu representando a empresa como especialista em jogos – ou “gamesmaster” – durante o litígio. Sua missão era demonstrar tanto Donkey Kong quanto sua sequência, Donkey Kong Jr., lançada em 1982, diante do juiz Robert W. Sweet.
“Três meses depois de me mudar para o novo escritório em Redmond, o Sr. Arakawa [presidente da NoA] me disse: ‘Jerry, o Howard Lincoln vai te ligar de Nova York em meia hora. Esteja na sua mesa para atender o telefonema'”, recorda Momoda. Howard Lincoln, que mais tarde se tornaria presidente da NoA, na época trabalhava para um escritório de advocacia que representava a Nintendo.
“Na ligação de Howard, ele disse que queria que eu fosse até Nova York para jogar Donkey Kong e Donkey Kong Jr. em um tribunal federal”, explica Momoda. “O assistente dele organizou toda a minha viagem, e eu até consegui levar minha namorada. Meus pais mal sabiam o que era um videogame naquela época, então você pode imaginar a surpresa deles ao saber que eu iria a Nova York para jogar em um tribunal federal.”
Momoda foi levado de avião para Nova York e hospedado no Helmsley Palace. “Naquele tempo, era um hotel de luxo famoso, localizado em Manhattan”, ele relembra. “Na manhã do julgamento, tomei café com Howard, que explicou o que aconteceria naquele dia. O habilidoso advogado de defesa, John Kirby, estava representando a Nintendo.”
Refletindo sobre o caso hoje, Momoda admite que não percebia a dimensão do que estava em jogo em 1983 – se as coisas tivessem tomado um rumo desfavorável, a história dos videogames poderia ser muito diferente. “Com a distância, percebo que foi bom não ter conhecimento profundo sobre o caso, porque eu não estava tão nervoso”, explica. “Estaria tremendo se soubesse o quão significativo tudo era. Pense assim: e se a Nintendo tivesse se rendido à Universal, como outras empresas já haviam feito? E se a Nintendo tivesse perdido? Podemos nunca ter visto outro jogo do Mario ou do Donkey Kong.”
No final, o juiz Sweet decidiu que a Universal não tinha controle sobre a propriedade do nome King Kong, nem de seus personagens e enredo; ele também concluiu que não havia risco de confusão para os consumidores entre King Kong e Donkey Kong, apesar das semelhanças entre os personagens e seus nomes.
