O falecido Bill Kunkel é frequentemente chamado de “O Avô do Jornalismo de Video Games”, e isso não é à toa. Ele foi um dos primeiros escritores profissionais a reconhecer o enorme apelo do entretenimento interativo, atuando como editor executivo da Electronic Games Magazine no início dos anos 1980. Durante sua carreira, também contribuiu para publicações como EGM, Tips & Tricks e VG&CE, e a Sociedade de Jornalistas Profissionais foi tão impactada por seu trabalho que nomeou seus prêmios de jornalismo de jogos eletrônicos como ‘Prêmios Kunkel’.
Entretanto, assim como qualquer pessoa, Kunkel cometeu erros ocasionais — e sua coluna ‘Fall Out’ na excelente, mas infelizmente efêmera, Fusion Magazine em setembro de 1995 é um exemplo disso. Em um texto surpreendentemente agressivo, Kunkel critica os jogos de luta em 2D como um “gênero superestimado e bidimensional” e afirma que quem dedica tempo para se aprimorar neles está apenas desperdiçando a vida.
Ele comenta: “Meu ponto é que vocês, indivíduos patéticos que dedicaram anos de sua vida dominando esses comandos absurdos em jogos de luta, precisam arranjar uma vida. É hora de chutar esse gênero.” Kunkel argumenta que os jogadores gastaram anos aprendendo uma habilidade que não tem utilidade no mundo real, contrastando com antigos jogos como Space Invaders e Pac-Man, que ensinavam reconhecimento de padrões. Para ele, muitos apenas aprenderam fatalidades e combos sem qualquer avanço real.
Kunkel também aconselha: “Saia da casa da sua mãe. Experimente outros tipos de jogos. Pelo menos explore as dimensões de Virtua Fighter ou Toshinden. Tente sims, jogos esportivos, RPGs; apenas faça algo além de uma sequência de movimentos sem sentido (Street Fighter Alpha não é uma opção).” Em sua crítica, ele instiga os leitores a crescer e a se interessar por coisas mais construtivas, como a filosofia chinesa ou os filmes de John Woo, reconhecendo que se deixaram seduzir por um gênero superestimado.
Com uma pitada de ironia, Kunkel lembra que foi chamado como testemunha especialista no caso Capcom U.S.A., Inc. v. Data East Corp., onde declarou que Fighter’s History da Data East era diferente o suficiente de Street Fighter II da Capcom para evitar alegações de violação de direitos autorais. “Adoro um epílogo irônico”, conclui Kunkel.
Hoje, é fácil rir dessa perspectiva, uma vez que os lutadores 2D são aprecidados em um nível de torneio por um vasto público. Kunkel não tinha a vantagem da perspectiva que temos atualmente em 1995, quando havia uma apatia real em relação à onda sem fim de jogos de luta 2D que se seguiu ao sucesso comercial avassalador de Street Fighter II. De fato, ao longo da década, os lutadores 3D se tornariam o gênero mais popular, então Kunkel estava certo nesse aspecto (uma pena que ele tenha escolhido Battle Arena Toshinden como um título recomendado).
É importante lembrar também que, quando o PS1 surgiu, seu poder em 3D era tão impressionante que muitos editores (e jogadores) rejeitaram qualquer coisa que não fosse renderizada em três dimensões. A posição de Kunkel, ainda que não universal, estava muito alinhada com o pensamento de muitas pessoas na época.
Infelizmente, Kunkel faleceu em 2011 aos 61 anos. Além de seu amor por jogos, ele também era jornalista de luta livre e conseguiu unir essas duas paixões no MicroLeague Wrestling de 1987 para computadores domésticos, o primeiro jogo de vídeo a portar uma licença da WWF (atualmente WWE).