Não é de hoje que se sabe que o estúdio Monolith, da Warner Bros. Games, que agora está fechado, estava desenvolvendo um jogo do Batman antes do lançamento de “The Dark Knight Rises”. Ao longo dos anos, tivemos um documentário detalhado sobre esse projeto, produzido pela galera do DidYouKnowGaming, além de vazamentos que revelaram imagens impressionantes do que poderia ter sido um jogo open-world. No entanto, o que sempre chamou a atenção foi a falta de entendimento sobre como esse projeto foi aprovado, considerando o sucesso da série Arkham, da Rocksteady.
Durante uma série de entrevistas com ex-funcionários da Monolith, aproveitamos para questionar Matthew Allen, um dos desenvolvedores do jogo cancelado, em busca de mais informações sobre o título que nunca viu a luz do dia. O artista e diretor de conteúdo nos confidenciou que ele e sua equipe estavam tão perplexos quanto nós sobre a decisão da DC e da Warner Bros. Games de se aventurar em mais jogos do Batman, mesmo com a fórmula vencedora já estabelecida pela Arkham.
Allen explicou que as origens do projeto estavam ligadas à decisão de mudar para uma perspectiva em terceira pessoa, em parte inspirada pelo trabalho do animador Richard Lico na série Condemned. Ele destacou que Lico estava produzindo animações de personagem “fantásticas”, mas que ninguém tinha a chance de apreciá-las, já que o jogo estava em primeira pessoa. Assim, decidiram mudar para a câmera em terceira pessoa, acreditando que isso ajudaria a mostrar o potencial das animações feitas no estúdio. Entretanto, antes que esse plano fosse colocado em prática, a equipe acabou sendo convocada para ajudar no desenvolvimento de F.E.A.R. 2, que estava enfrentando dificuldades.
Relembrando esse período, Allen comentou: “Saímos de Condemned e o time foi quase todo absorvido pelo F.E.A.R. 2, que estava com muitos problemas. Pediram para ajudarmos a finalizar F.E.A.R. 2, mas a maior parte da minha equipe de conteúdo foi trabalhar na Bungie porque não queriam passar por crunch. Então uma das coisas que fiz para salvar um engenheiro, o Aaron Leiby, foi dizer: ‘Olha, você não precisa trabalhar no F.E.A.R. 2, vá trabalhar nesse sistema de animação em terceira pessoa.’ Isso foi bem na época em que o motion matching estava começando a ganhar destaque.”
Enquanto Leiby trabalhava nesse novo sistema, os outros membros da equipe de Condemned se dedicaram a completar F.E.A.R. 2. Após essa fase, Allen começou a conversar com Samantha Ryan, vice-presidente de produção e desenvolvimento da Warner Bros. Interactive Entertainment, para saber qual seria o próximo passo para o grupo de desenvolvedores. Ele disse a ela: “Tenho esse cara, o Aaron, trabalhando na câmera em terceira pessoa e acho que podemos fazer um jogo open-world usando conteúdos que já temos de F.E.A.R. Podemos fazer uma demo?” E a resposta dela surpreendeu: “Vocês deveriam fazer um jogo do Batman.”
A ideia era que os jogadores pudessem explorar Gotham, seja deslizando pelo ar com o gancho, como nos jogos da Arkham, ou dirigindo o Batmóvel. Allen expressou que havia confusão entre ele e sua equipe sobre a necessidade de um novo jogo do Batman, questionando se isso poderia afetar o que a Rocksteady estava fazendo. Apesar da incerteza, eles concordaram em trabalhar em uma demo jogável que utilizaria elementos dos filmes de Nolan, oferecendo uma cidade totalmente explorável, assim como em “Arkham City”.
“Era tudo muito estranho para nós, porque sabíamos do jogo da Rocksteady,” disse Allen. “Ficávamos tipo, ‘Por que diabos estamos fazendo dois jogos do Batman?'” Outros na equipe também achavam esquisito. Durante o desenvolvimento, enquanto estudavam a proposta que se tornaria “Gotham City Impostors”, parecia que a ideia era simplesmente fazer mais um jogo do Batman, mas de uma forma bem inusitada, sem que o próprio Batman aparecesse.
Ainda houve uma curiosidade adicional sobre esse projeto, até mesmo entre os membros da equipe da Rocksteady. Allen recordou uma conversa com um artista do time deles, que também se perguntou: “Por que vocês estão trabalhando em um jogo do Batman?” E embora não soubesse a resposta, ele achou a pergunta válida.
Houve muitas especulações sobre o porquê do cancelamento do jogo, sendo a principal razão pela qual Christopher Nolan nunca deu seu aval. Allen confirmou essa versão, dizendo: “Christopher Nolan não queria se envolver com esse jogo. Ele pediu: ‘Não lancem esse jogo perto do meu filme.’ Ele não gostava de nada relacionado a jogos, pois sentia que havia sido prejudicado, uma vez que o primeiro filme teve um jogo sem sua autorização.”
“Eu entendo de onde ele vinha,” comentou Allan. “O cara é um gênio, e muitas vezes essas coisas são apenas tentativas de ganhar dinheiro. E acho que ele sabia disso e percebia que a qualidade raramente era boa. Então, para mim, era óbvio que Nolan estava tipo ‘O que vocês estão fazendo?’ Mas também tinhamos a sensação interna de que estávamos prejudicando a Rocksteady. Parecia muito estranho estarmos fazendo um jogo open-world do Batman ao mesmo tempo.”
