Se você é um leitor de longa data do Retrogamer Brasil, já deve estar ciente de que não estamos exatamente animados com o uso atual da inteligência artificial. Embora essa tecnologia possua um potencial enorme para trazer benefícios em áreas como ciência, pesquisa e medicina, parece que as empresas que a promovem estão mais preocupadas em criar vídeos de deepfake de celebridades roubando frango do que em curar o câncer ou melhorar nossas vidas.
Recentemente, nos deparamos com uma nova irritação no cenário: a “atualização” (ou “vandalismo”, se formos mais sinceros) de fotos antigas ligadas à história dos videogames. Como notado por VGDensetsu, alguém na Taito transformou uma foto vintage em preto e branco de jogadores japoneses ao redor de um fliperama Darius, passando-a pelo processador de uma inteligência artificial e gerando uma imagem colorida que altera vários aspectos da original.
Por exemplo, o título do jogo foi mudado para ‘WANUS’, o jogador à esquerda tem um rosto praticamente diferente, e o rapaz no canto inferior esquerdo está usando uma jaqueta jeans distinta. O fato de esse material ter sido produzido e divulgado por uma conta oficial da Taito torna tudo ainda mais preocupante; muitos podem acreditar que essa é uma foto autêntica, dada a sua origem.
A imagem, datada de 1986, foi postada pela Taito para celebrar a apresentação do jogo na 24ª AM Show, realizada nos dias 7 e 8 de outubro daquele ano. Algo parecia estranho na imagem que aparece abaixo: é uma foto que foi editada e colorizada por uma inteligência artificial. Por favor, parem com isso.
Certamente haverá alguns “defensores da AI” que verão a nova imagem como uma fantástica melhoria, mas aqueles que realmente valorizam a história dos videogames estão indignados com a possibilidade de fotos vintage serem tratadas dessa forma. “Foi alterada de tantas maneiras além da ‘colorização’”, diz o artista de quadrinhos Jamie McKelvie. “A criança tem um rosto totalmente diferente! A inteligência artificial está sendo usada para minar a história, a informação e até a realidade. Como iremos reverter tudo isso?”
O famoso jornalista e quadrinista Kieron Gillen concorda. “Isso não é uma colorização de forma alguma. É uma imagem como prompt, e isso é especialmente enganoso quando aplicado à história.”
“Eu já sabia disso, mas agora tudo fica muito mais claro: vai ser um grande transtorno daqui pra frente,” acrescenta o Historiador de Hyrule, arquivista de Zelda. “A pesquisa e a preservação da arte vão se tornar um verdadeiro pesadelo.”
Outro usuário do BlueSky, Jordan Sorcery, acredita que isso pode ser um ponto de virada para a web como um todo. “Esse tipo de situação (e a degradação dos motores de busca) será lembrada como uma tragédia cultural, semelhante ao que aconteceu quando a BBC jogou fora uma parte do seu acervo nos anos 60. Supondo que a sociedade ainda exista após tudo isso.”
