Desde o surgimento dos videogames, diversos títulos de terror foram criados para perturbar, empolgar e inquietar os jogadores. Desde as simples emoções baseadas em texto de jogos de aventura como Mystery House até os clássicos FMV como Night Trap e The 7th Guest, sem esquecer os tensos jogos de sobrevivência como Resident Evil e Silent Hill, o gênero apresenta uma evolução constante, oferecendo muitas maneiras de provocar medo nos fãs.
Essa rica e diversificada história é a base para uma nova série documental, desenvolvida pela mesma equipe criativa de FPS: First Person Shooter. Terrorbytes chamou a atenção em fevereiro de 2024, durante sua pré-venda, principalmente por seu impressionante elenco de entrevistados, que inclui figuras como o cineasta John Carpenter e renomados desenvolvedores de jogos como Hifumi Kouno (Clock Tower), Ken & Roberta Williams (Mystery House, Phantasmagoria) e Akira Yamaoka (Silent Hill).
Assim que tive a chance de assistir à série completa, fiquei curioso para saber se ela iria atender às minhas expectativas. O que encontrei foi uma visão envolvente e divertida sobre o gênero de terror, que certamente serve como uma excelente introdução para novatos, além de trazer várias anedotas interessantes para os fãs mais experientes. As únicas desvantagens que notei foram o preço elevado (a descarga digital custa R$ 27,99 e o Blu-Ray padrão R$ 79,99) e alguns episódios finais que parecem menos focados.
Diferente do trabalho anterior da equipe, FPS, que foi apresentado como um bloco contínuo de quatro horas, Terrorbytes opta por uma abordagem mais segmentada, dividida em cinco episódios de uma hora cada, com cada um dedicado a um tema específico do gênero. O primeiro episódio aborda o universo dos jogos de sobrevivência, enquanto o segundo discute jogos licenciados. O terceiro episódio examina títulos FMV, e os dois últimos exploram o mundo do terror independente e projetos “amaldiçoados” ou controversos.
Graeme Devine, co-criador de The 7th Guest, faz parte dos entrevistados, compartilhando suas lembranças sobre o clássico FMV e sua sequência, The 11th Hour. Dos cinco episódios, os três primeiros se destacam como os mais sólidos, cobrindo jogos e pontos de discussão esperados, além de oferecer uma análise interessante sobre tendências que surgiram e desapareceram ao longo do tempo. Os dois últimos episódios, por outro lado, foram um pouco menos cativantes, o que atribuí à dificuldade de condensar temas tão amplos e complexos em uma narrativa coesa.
O terror independente, por exemplo, é uma subcategoria imensa do universo dos jogos, sem um “cânone” amplamente aceito de títulos importantes. Isso exigiu que os criadores da série tomassem decisões críticas sobre quais jogos incluir ou deixar de fora, tornando esse episódio um dos menos objetivos em comparação com os outros.
Além dos desenvolvedores, a série também conta com análises de videoasta Super Eyepatch Wolf e acadêmicos como Kaytlin Blackmore, além do autor Christopher Carton e do jornalista Justin Wood. Acredito que se os cineastas tivessem dedicado mais de um episódio ao tema do terror independente, teriam espaço para explorar uma gama maior de títulos.
A seção que aborda projetos “amaldiçoados” e controversos tenta cobrir vários tópicos, como a relação dos videogames com tragédias reais e controvérsias, mas acaba parecendo sobrecarregada para um único episódio.
Apesar disso, apreciei muito Terrorbytes e creio que tem muito a oferecer aos fãs do terror e dos videogames em geral. Foi especialmente interessante ver profissionais do setor falando não apenas sobre seus próprios jogos, mas também comentando sobre outros que normalmente não discutem, como Hifumi Kouno mencionando Outlast e Will Byles (Until Dawn) comentando Phantasmagoria.
Caso o preço não seja um obstáculo, realmente não há nada igual disponível, e estamos na torcida por uma nova temporada.